Alfred Russel Wallace
Alfred Wallace, o outro pai da Teoria da Evolução
A despeito de toda polêmica fomentada por fundamentalistas religiosos, a Teoria da Evolução é considerada um dos pilares da ciência e, seu autor, um dos mais conhecidos e influentes cientistas e pensadores do mundo. Mesmo quem não é capaz de citar muitos nomes de cientistas costuma se lembrar de Charles Darwin. Curiosamente isso ocorre - ao menos em parte - por conta da seleção natural e da sobrevivência das ideias do mais bem adaptado no mundo acadêmico. No caso, Darwin.
É que, na verdade, ele não foi o único autor da ideia da evolução pela seleção natural. Um outro naturalista britânico, Alfred Russel Wallace, desenvolveu ideias semelhantes em paralelo às de Darwin e acabou apresentando com ele os primeiros estudos sobre o tema, em 1858. Entretanto, atualmente, poucos se lembram da contribuição de Wallace, morto há um século. Isso faz sentido porque, embora fosse um sujeito de ideias revolucionárias, ele não era capaz de desenvolvê-las. Mesmo assim, explicam especialistas, se antecipou a Darwin na preparação de um esboço de estudo e, se não tivesse decidido submeter o seu trabalho ao colega, poderia ter tido a primazia da publicação.
Wallace era o cara que tinha o estudo pronto para publicação - disse o curador do Museu de História Natural de Londres, George Baccaloni, em entrevista ao jornal "Independent". - Se ele tivesse mandado o trabalho diretamente para a academia, ele teria sido publicado e a seleção natural teria sido uma descoberta de Wallace.
Darwin e Wallace percorreram caminhos muito diferentes para chegar a ideias similares. Darwin era de uma família tradicional, endinheirada, teve uma educação formal, frequentava o meio acadêmico, era meticuloso e passou anos estudando. Wallace nunca foi à universidade. Era um autodidata e rodava pelo mundo em viagens de campo. Com pouco mais de 20 anos, já tinha lido todo tipo de relato disponível na época que mencionasse a possibilidade de transformação das espécies.
Wallace foi bem mais rápido. Durante uma expedição nas Ilhas Molucas, na Indonésia, ele escreveu um ensaio no qual definia as principais bases da Teoria da Evolução e o enviou a Charles Darwin, com quem mantinha correspondência, pedindo ao colega uma avaliação do trabalho e o posterior encaminhamento ao geólogo Charles Lyell para publicação. Ao ler a correspondência, Darwin rapidamente percebeu que o manuscrito de Wallace apresentava uma teoria praticamente igual à sua, na qual vinha trabalhando em segredo por duas décadas. De forma correta, Darwin encaminhou o ensaio a Lyell recomendando a publicação, mas desabafou: "Nunca vi uma coincidência maior. (...) Toda a minha originalidade será esmagada."
Foi então que Lyell e o botânico Joseph Hooker, também amigo de Darwin, propuseram que os trabalhos fossem apresentados juntos à Sociedade Linnean de Londres, na época um dos mais importante centro de estudos de história natural do Reino Unido. O que foi feito. Darwin, no entanto, correu para concluir o livro que vinha escrevendo, "A origem das espécies", que acabou sendo lançado um ano depois, em 1859, com 500 páginas (originalmente, seria muito maior). Se os estudos não chamaram muita atenção, o livro causou, de cara, grande polêmica.
A teoria derruba de vez a ideia de que o homem poderia ter uma origem divina e ainda sustenta que ele compartilha um ancestral comum com os macacos. E é justamente aí que os caminhos de Wallace e Darwin se separam.
Wallace acreditava que a seleção natural explicava toda a diversidade biológica, menos a mente humana - que ele considera complexa demais para ser explicada dessa forma. Para explicá-la, Wallace evoca um "espírito superior", o que enfurece Darwin.

Os padrões de Variedade das Espécies
Wallace já havia aceitado a evolução quando ele começou suas viagens em 1848 pela Amazônia e sudeste da Ásia. Em suas viagens, ele procurou demonstrar que a evolução realmente aconteceu, mostrando como a geografia afetava a variedade das espécies. Ele estudou centenas de animais e plantas, tomando cuidado de registrar onde cada um foi encontrado. Os padrões que ele encontrou eram evidências favoráveis para a evolução. Ele foi indagado, por exemplo, de como as fronteiras estabelecidas por rios e montanhas delimitavam os habitats de muitas variedades de espécies. A explicação convencional de que espécies tinham sido criadas com adaptações para o clima particular da região onde elas vivem não faz nenhum sentido, visto que ele encontrou regiões com climas semelhantes e animais completamente diferentes.
Wallace chegou a mesma conclusão que Darwin publicou em A Origem das Espécies: biogeografia era apenas um registro da hereditariedade. Enquanto as espécies colonizavam novos habitats e suas velhas fronteiras eram divididas por montanhas e outras barreiras naturais, eles foram se conformando na distribuição em que se encontram atualmente.